A deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) foi a entrevistada desta segunda-feira (19) no Panorama Eleições 2020, série de entrevistas que o BNews está promovendo com os candidatos à prefeitura de Salvador em formato de "live", no Instagram. Entre outros temas, a parlamentar falou em tarifas sociais para o transporte público e quer tratar a Segurança com mais diálogo.
Confira abaixo a entrevista completa com Olívia Santana (PCdoB):
Vamos começar com uma pergunta padrão. Qual proposta do seu plano de governo a senhora destacaria?
Essa cidade é cheia de carências, mas eu acredito que nesse momento de pandemia, o mais essencial é iniciar a retomada emergencial da Economia de Salvador. Estamos propondo a implantação de uma política municipal de microcrédito com investimento dos microempreendedores. Nós iremos fazer uma política de requalificação de favelas, de ambientes degradados. Eu nasci numa favela e sei como é doloroso viver num ambiente com degradação, morrendo em pleno século 21. Este plano irá ao mesmo tempo proporcionar moradias mais dignas e aquecer a indústria da Construção Civil. Não há retomada econômica sem crédito e investimento.
Gostaria que a senhora comentasse esse episódio sobre sua peça de campanha que associava Geddel a Bruno Reis (DEM). A Justiça derrubou a propaganda.
Não fui eu que associei Bruno Reis (DEM) a Geddel, ele tem uma história. Ele era do PMDB, ele tem uma história política com Geddel Vieira Lima, foi o padrinho dele e quem indicou ele a vice na chapa do ACM Neto (DEM). Nós não inventamos nada, apenas recuperamos a memória da população, inclusive com notícias que saiu em diversos veículos de comunicação. Quando Geddel ja havia sido denunciado, ele continuou fazendo a defesa do Geddel.
Gostaria que a senhora detalhasse mais essa proposta de economia popular, de reforma econômica.
A minha opção por esse plano de governo diz respeito a minha trajetória, que sempre foi de enfrentamento às desigualdades sociais. Eu sei que pode ser diferente, mas nós temos todo um sistema verticalizado, elitista, e que os mesmos grupos são favorecidos. É possível diversificar nossa matriz econômica. Quando eu falo do plano de urbanização das favelas, por exemplo, nós temos os recursos do Fundo Nacional de Moradia, mas é preciso ter a decisão política e se importar.
É uma questão de prioridade, não é ficar o verão inteiro fazendo festa, evento e não fazendo investimentos necessários, urbanísticos. Buscar reurso não só no Fundo Nacional de Moradia, mas os organismos internacionais de investimento, nós temos uma bancada parlamentar na AL-BA, que é uma maioria, nós temos o apoio da maioria dos deputados federais e também dos três senadores. Eu sou uma deputada que tive quase 60 mil votos, nós temos uma relação extremamente positiva, eu tenho certeza que uma vez eleita, eu tenho condições de dialogar com os senadores e deputados federais.
Nós temos que atrair recursos para essa política de reurbanização, temos que investir em políticas de Educação ambiental, Salvador não tem nenhuma. Nós temos que apostar em reciclagem, trazer as cooperativas de reciclagem para perto da prefeitura e não tratar como marginais. Eu quero fazer uma política de apoio e garantir que todo mundo tenha um lugar ao Sol.
Gostaria que a senhora comentasse a pesquisa RealTime/CNN divulgada hoje, que mostra Bruno Reis na liderança com 41%. A senhora aparece em quarto, com 6%.
Eu respeito todos os institutos de pesquisa, mas eu também refuto qualquer tipo de manipulação de dados a partir de grupos hegemônicos. Nós temos uma história farta de grupos de pesquisa em favorecer quem está no poder. Minha pesquisa eu faço no corpo a corpo, lógico, respeitando todas as normas sanitárias. Eu, quando candidata à deputada em 2018, saíam diversas pesquisas que colocavam que eu não conseguiria me eleger, ou, se fosse eleita, seria na última cadeira. E eu coloquei o foco no povo, fiz minha campanha, e fui eleita com quase 60 mil votos.
Tenho muita tranquilidade em lidar com isso, Jaques Wagner e Rui Costa eram dados que não seriam eleitos. Pesquisa é uma coisa que não me impressiona, eles querem criar uma ideia, eu acho até que deveriam mudar esa tática, tática desmoralizada, que ninguém confia mais. Essa história de uma elite que detém os grandes conglomerados de comunicação, faz suas manipulações. Essa receita das pesquisas é muito velha. Eu coloco meus pés na estrada e faço minha campanha, nas redes sociais e o povo vai decidir. A gente tem que ter foco no povo. Eles vêm insistindo que o candidato do prefeito é o escolhido, mas ele ficou tão incomodado com a propaganda que passou ali rapidamente, mas ele ficou desesperado proque não quer que o povo olhe pra trás.
Eu tenho muito amor a nossa cidade, muita responsabilidade e muita garra para vencer desafios. Eu não tenho nenhuma dúvida que nossa coligaçaõ vai chegar, sim, e vamos fazer história nessa cidade de 471 anos, 80% de negros e nenhum negro governou a cidade.
Nós não temos perspectiva de um término de pandemia, o início de sua gestão seria marcado por uma pandemia ainda acontecendo. Como seria o retorno nas escolas municipais e o combate do coronavírus?
Nós temos no nosso plano uma política de retomada das atividades escolares levando em conta as decisões do comitê científico. Nós não somos negacionistas como o presidente da República. Se ele valorizasse mais a ciência, nós não teríamos tantas perdas. Quando eu fui secretária de Educação, nós construímos um modelo de matrículas on-line, não precisa mais acontecer aquela coisa horrorosa que acontecia antes. Eu pretendo garantir as escolas com 100% de acesso à internet, kits para os alunos, para os professores, investir os recursos do Fundeb também em tecnologia. A tecnologia precisa estar a serviço de muitos, da grande maioria, garantir o conhecimento.
Assim é possível adotar a educação remota de maneira híbrida, levando em conta as determinações científicas para garantir a recuperação das perdas e a retomada do ano letivo. Eu tenho certeza que nós temos equipe com capacidade para fazer esse trabalho. Eu tenho muita fé em Deus e na ciência de que a vacina chegará.
Como funcionará a reanálise do atual contrato dos ônibus?
Eu considero que Salvador sofreu uma mudança significativa na mobilidade urbana, nós temos o metrô. Foi o governo de Wagner e Rui, com o apoio do governo Lula, que transformou o metrô. Nós vamos ter a implantação do monotrilho do Subúrbio. Esses modais diversificados precisam se integrar aos ônibus. Nós precisamos repactuar, sentar numa mesa e ver as planilhas, ver o que é necessário e com foco no interesse público de oferecermos um modelo de transporte que seja mais confortável para população.
Temos que garantir as tarifas sociais, não há uma política de uma tarifa social mais inclusiva para enfrentar essas desigualdades brutais que há em Salvador. Eu acredito que transporte público diz respeito ao direito de ir e vir, ele não é um luxo, é uma necessidade, um direito democrático. É com essa visão que eu pretendo sentar e dialogar com o setor empresarial para discutir um novo modelo em que tenhamos de garantir um novo transporte, mais barato e com mais linhas.
Aqui no Brasil se convencionou que transporte público é coisa de pobre, e se é coisa de pobre não merece qualidade. Isso é uma visão atrasada e elitista. A gente precisa ter um bom transporte público que garanta mais pessoas usando e possa diminuir a quantidade de transporte individual. Eu acho engraçado que nossa elite quando sai daqui, volta falando maravilhas do transporte europeu e não move uma palha para mudar o daqui. Eu não quero ficar olhando o que o estrangeiro tem.
Como seria organizado o Observatória da Segurança Social?
Nós precisamos mudar a nossa política de Segurança Pública. Eu sei que o município tem uma função, mas a principalidade dele é do Estado e nós não vamos usurpar as funções da Secretaria de Segurança Pública, da Polícia Militar. Nós precisamos de uma Guarda Municipal garantista, cidadã e de prevenção à violência e não militarizada. Nós não podemos permitir que a violência tome o lugar da inteligência.
Eu sou uma mulher negra, eu sei que a juventude negra é a que mais sofre com a violência. Eu acredito que é possível uma nova política que incentiva a solidariedade, solução de conflitos e tenha mais eficácia na preservação da vida.
A senhora fala em criar uma secretaria da Cultura e Inovação, que seria de responsabilidade da Fundação Gregório de Mattos. Qual a justificativa para criação dessa secretaria?
A cultura e a inovação não podem viver separadas. Nós temos que perceber a cultura e alta tecnologia como dois elementos que precisam ser ativados e caminhar juntos. Uma secretaria de Cultura e Inovação precisa acontecer, nós temos que ter economia criativa e uma política cultural que dialogue com todos, não só uma prefeitura que só realize grandes eventos. Precisamos de uma política de fomentação das diversas áreas artísticas.
O Turismo é fundamental de ter atenção necessária, mas nós não podemos deixar a Fundação Gregóriode Mattos lá, solta. Garantindo que a indústrica cultural possa florescer, ter um calendário de eventos fruto de diálogo, permitirá um impacto muito mais grandioso, pra mim tudo é integrado. Nós não podemos ter uma política cultural e de Turismo que só dialoga com o Centro e a Orla da cidade.
Como pôr na prática essa mudança no âmbito do governo federal e como conciliar o discurso combativo de oposição com a necessidade de dialogar com o governo federal para arrecadação de recursos?
Eu tenho uma posição política, que faz parte da minha história, eu não votei nesse presidente. Eu fico chocada que esse governo, no meio de uma pandemia, não compreenda a importância do SUS, mantenha o teto de gastos que impede maior investimento do governo federal no SUS. Eu entendo que uma prefeita, uma deputada, tenha que fazer uma luta para mudar a política nacional que não favoreça o desenvolvimento social e econômico pro pais.
Os governadores do Nordeste se uniram para enfrentar a tirania que vem de Brasília. Eu acredito que é possível mudar a configuração do poder. Olha a Bolívia: deram um golpe no país, Evo saiu do país, mas o povo elegeu o novo presidente que era ministro do Evo, renovando o compromisso com a democracia.
Quero lembrar que Salvador não votou nesse presidente, a grande maioria de Salvador votou em Haddad, num professor. Nós não abrimos mão de ver um presidente em 2022 que cause orgulho e não um que fica passeando de jatinho enquanto os corpos sao enterrados. Eu fico triste com o prefeito de Salvador, que fica sustentando esse presidente no plano nacional. O DEM é um dos paridos que mais sustenta ele. Quem votar em mim saberá de fato que eu tenho um campo, um lado na política, que é o da democracia e o da população.
Consideracões finais:
Eu quero agradecer a todas as pessoas que tem somado comigo, agradeccer a Joca Soares, que é meu vice, ao PP, do vice-governador João Leão e pedir essa chance ao nosso povo. Que dê uma oportunidade a uma filha do povo. Nós podemos fazer diferença e apostar num projeto novo que una a cidade de Salvador, por isso peço uma chance e o voto no 65. Olívia para prefeita. Quero fazer um destaque ao apoio do nosso querido Gilberto Gil, figura sagrada da MPB, que hoje se associa ao nosso projeto. Essa gente de valor vai virar o jogo na cidade de Salvador e garantir a vitória do 65. Chegando no segunto turno, Wagner e Rui estarão com a gente e darão apoio.
Fonte: BocaoNews